Mundial de 2034 na Arábia Saudita. "FIFA demonstra que compromisso com Direitos Humanos é farsa"

por Inês Geraldo - RTP
Reuters

Em 2034, a Arábia Saudita vai receber o campeonato mundial de futebol. Uma decisão muito festejada em Riade, mas criticada por muitas organizações ligadas aos Direitos Humanos. Em declarações à RTP, a Amnistia Internacional acusou a FIFA de promover o risco para muitas vidas, afirmando que o compromisso para com os Direitos Humanos do principal regulador do futebol mundial é "uma farsa".

Depois do Catar, a Arábia Saudita. A FIFA atribuiu o Mundial de 2034 aos sauditas, que irão ser anfitriões quatro anos depois da candidatura conjunta de Portugal, Espanha e Marrocos.

Miguel Marujo, da Amnistia Internacional, considera que a decisão da FIFA marca um novo momento de perigo para os Direitos Humanos e que muitas vidas ficarão em risco devido aos trabalhos para a construção de novos estádios para a competição.

A Amnistia Internacional juntou-se a vários signatários para criticar a decisão da FIFA. Miguel Marujo acredita que a organização liderada por Gianni Infantino mostrou definitivamente que o seu compromisso com os Direitos Humanos não passa de uma “farsa”.
“A própria FIFA inclui no caderno de encargos às diferentes candidaturas um respeito pelos Direitos Humanos. No entanto, o seu contínuo fracasso em compensar os trabalhadores migrantes que foram explorados, por exemplo, no Catar, não traz qualquer confiança de que as lições tenham sido aprendidas”.A Amnistia Internacional pede uma mudança de rumo da FIFA e estratégias abrangentes na Arábia Saudita para o respeito integral dos direitos humanos.


“Recordamos que a Arábia Saudita detém um dos piores recordes do mundo. É um dos países com mais mortes de pessoas condenadas à morte por execução por decisão do Estado”
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Os direitos das mulheres também foram abordados. Miguel Marujo relembrou o caso de Manahel al-Otaibi, uma instrutora de fitness saudita, que foi condenada a 11 anos de prisão por defender os direitos das mulheres e por se apresentar num centro comercial vestida com roupa considerada imprópria pelo regime de Mohammad bin Salman.

“Manahel al-Otaibi é uma instrutora de fitness que cumpre uma pena de cadeia de onze anos exatamente por se limitar a fazer estes gestos tão banais no dia-a-dia de outros países”.Uma das organizações que se juntou ao rol de críticas foi a ALQST For Human Rights, da diáspora da Arábia Saudita, e revelou que a decisão da FIFA foi “desanimadora” por dar ao regime de bin Salman tal responsabilidade.

Miguel Marujo acredita que são necessárias ações urgentes e sustentadas para mitigar todos os riscos associados à Arábia Saudita e que o caminho passa por reformas “credíveis” para o futuro.

Grupos migrantes, especialmente associados a um grupo do Nepal, temem o futuro dos trabalhadores que vão estar na construção dos estádios. “A FIFA não deve fechar os olhos. A vida dos migrantes exige responsabilidade e justiça o que também não tem acontecido até aqui, porque no Catar, a FIFA ainda não avançou com qualquer compensação aos trabalhadores que foram explorados e prejudicados”.

É importante para a Amnistia que esta candidatura seja condicionada a uma elaboração de estratégias de Direitos Humanos específicas e exaustivas. Aquilo que a Amnistia pede é que de facto haja muita vigilância sobre aquilo que são os direitos laborais e civis dos trabalhadores envolvidos no processo de construção mas também sobre os Direitos Humanos do próprio país que vai acolher este Mundial”.

No entanto, não é só o Mundial 2034 que recebe críticas. A candidatura conjunta de Portugal, Marrocos e Espanha também apresenta problemas que Miguel Marujo acredita que ainda não foram abordados e terão de o ser no futuro.

“[Problemas] do policiamento excessivo, despejos forçados, discriminação legalizada. Ainda há muito a fazer para garantir que o torneio de 2030 possa ser disfrutado por todos no pleno respeito pelos seus direitos”.
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